Educação é antes de tudo arte!
Arte de sentir, arte de ser, arte de conhecer... É ser curioso, é não aceitar a simples resposta: porque é assim!
Educação é mais do que ser cortês, é desejar alterar as fronteiras do conhecido para adentrar o desconhecido, é humanizar-se, é evoluir em atitudes e comportamentos.
Educar-se é estar constantemente trilhando o caminho do desenvolvimento, e esse caminho não é solitário, é conjunto!

Vamos juntos trilhá-lo!


quinta-feira, 1 de novembro de 2001

Comentário do texto de Christopher Blake: poderá a história ser objetiva?


Este comentário tem por finalidade mais questionar do que simplesmente resumir ou apenas comentar. É sempre um pouco mais difícil fazer uma leitura teórica, ou seja, compreender e apreender as teorias da história, os processos de pensamento, enfim, como se produz o conhecimento. Mais difícil ainda se torna uma leitura como esta, a que Blake nos apresenta, porque, muito mais que uma teoria, ele discute conceitos dentro de conceitos.
Dentro desse contexto, a leitura se torna mais difícil ainda quando o leitor não compreende os significados das palavras que o autor utiliza, ou mesmo os conhecendo não consegue inserí-los no contexto da frase, ocasionando assim um certo desconforto por não conseguir chegar ao “ponto de chegada” do pensamento do autor; não conseguir realmente compreender o que ele quer dizer com certas proposições.
Como exemplo disso tomo uma citação: “(...) Note-se, em primeiro lugar, que existem, entre regras de trabalho dos historiadores, critérios para determinar precisão e segurança das fontes – critérios desses de aplicação geral. Foram sistematizados por pedagogos, embora gerlamente com êxito variável; mas, por mais difícil que seja para os autores de tratados dessa natureza transpor a lacuna existente entre teoria codificada e a prática reconhecida como boa, é incontestável que , na prática, se observem certos critérios de honestidade intelectual.” (p.405)
Tomemos a palavra honestidade. O que ele quer dizer com honestidade intelectual (?), isso tem a ver com verdade (?). Talvez essa discussão requeira um estudo mais aprofundado ou no mínimo mais cuidadoso sobre o conceito de verdade. Ou então, absolutamente não podemos relacionar esta honestidade intelectual com verdade. Mas, então, o que quer dizer critérios de honestidade intelectual?
Blake esclarece:

“Quando a nós próprios perguntamos o que significa ter conhecimento histórico, a mais óbvia – e provavelmente a de maior influência – fonte de confusão é uma analogia com a ciência natural; e facilmente se conclui dos escritos daqueles que criticam a objetividade da história que uma das origens das duas acusações é, em muitos casos, um desejo de assimilar a história às ciências. Segundo um código muito geral de respeitabilidade epistemológica, as ciências estão ao abrigo de censuras; isto parece acontecer especialmente se apresentam as afirmações científicas como perfeito paradigma da imparcialidade e da indiferença perante o espaço e o tempo. (...) um estudo da lógica das ciências – por exemplo a Física, que é considerada a ciência mais adulta e consequentemente arquetípica – revela que a sua estrutura ideal é a de um sistema dedutivo formal.” (p.410 e 411)

Deduzimos, com isso que: - as ciências as quais ele se refere estão no campo do que vulgarmente chamamos de ciências exatas, exemplo: física.
É claro que nesta passagem escolhida ele não está defendendo esta opinião e sim dialogando sobre o discurso dos filósofos referente à questão proposta. No entanto, o que quero dizer é que por um acaso os físicos também não possuem teoria? Entre os teóricos da física também não existem divergências? É claro que sim! E nem por isso os seus estudos deixam de ser considerados objetivos. Só para citar um exemplo, tomemos a problematização em volta do estudo da antimatéria:* é sabido que toda molécula possui seu oposto. Isto significa que quando houve a grande explosão de energias que gerou o planeta, foram produzidas na mesma quantidade, pergunta-se: como foi possível a criação do mundo? Se elas se autodestroem em contato uma com a outra transformando-se em energia, então a matéria que forma os planetas também não deveria existir, portanto, tudo deveria ser apenas e unicamente energia. E quanto a essa problemática poucos estudiosos, físicos, opinaram, ou estudaram à fundo, pois provoca muitas divergências teóricas. Neste assundo um físico russo se tornou célebre por defender uma teoria e a ele muitos outros divergiram. Então, como podem estes estudos serem também objetivos, já que muitos autores, como Walsh, acreditam que “é possível aos historiadores conseguirem um certo grau de imparcialidade, mas, porque eles nunca estão em completo acordo, nega-se que a história seja objetiva.” (p.405)
Se a problemática das divergências está presente em ambas situações, porque a história carrega o estigma de não poder ser objetiva e a física está “ao abrigo de censuras”?
Enfim, são muitas as considerações, muito valiosas e infindáveis os questionamentos, argumentos e comparações possíveis, referentes ao estudo da objetividade da história. E o Blake se propôs a estudar e a questionar estes estudos filosóficos no campo da objetividade.

Referência Bibliográfica

BLAKE, Christopher. Poderá a História ser Objetiva? In Teorias da História. 3.ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984.
* Revista Galileu, edição de junho de 2001.