Educação é antes de tudo arte!
Arte de sentir, arte de ser, arte de conhecer... É ser curioso, é não aceitar a simples resposta: porque é assim!
Educação é mais do que ser cortês, é desejar alterar as fronteiras do conhecido para adentrar o desconhecido, é humanizar-se, é evoluir em atitudes e comportamentos.
Educar-se é estar constantemente trilhando o caminho do desenvolvimento, e esse caminho não é solitário, é conjunto!

Vamos juntos trilhá-lo!


domingo, 8 de maio de 2011

Bolodório


Estou com vontade de fazer um bolodório. Sinto tanta falta dos bolodórios feitos com as amigas. Noite adentro iam esses momentos, regados a vinho tinto...

Um bolodório que se preze deve ser sempre acompanhado com belo Cabernet Sauvignon. Um não, vários! Lembro das noites de inverno na casa nova de uma das amigas, ah Lia, não tinha muito espaço no quarto e sala, mas era a sua casa própria, a primeira, comprada com a grana do trabalho dela. Não preciso dizer que era um belo motivo para comemoração!

Mas os nossos bolodórios não se resumiam à casa da Lia, podiam acontecer na faculdade, na biblioteca, na Redenção (saudade da Redenção aos domingos nas manhãs de inverno com o sol coroando nossas cabeças, a térmica de água quente debaixo do braço e a cuia passando de mão em mão)... Ai ai ai, precisei colocar essa lembrança entre parênteses, antes que ela se estendesse e eu perdesse o fio da meada.

Bem, o fato é que aprendi essa palavra – bolodório – ontem. Achei feia, mas de tanto repetir para não esquecer, achei interessante. Na minha mente maliciosa, um bolodório com quatro amigas, poderia ser facilmente interpretado como qualquer tipo de mènage (risos), mas não é nada disso.

Ontem uma amiga disse que Manaus é uma cidade “sem assunto”, que as pessoas não se dispunham a um belo bolodório, como fazemos no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, cidades por nós bem conhecidas. Como assim, sem assunto? Pensei. Pois muito bem, vejam o contexto. Eu saí do trabalho e fui almoçar com ela num restaurante que gostamos, pedimos entrada, pedimos vinho, prato principal, restaurante cheio... somos da casa, podemos esperar, todos foram servidos, ficamos por último, nos importamos? Claro que não! Em nossa mesa havia vinho, água, um cesto de torradinhas maravilhosas e estávamos entregues a um belo bolodório! Ríamos, conversávamos emendando um assunto no outro, nos perdíamos, voltávamos, enquanto todos foram comendo e indo embora. Ficamos nós, 16h47 para fechar o restaurante. E nos perguntamos então, onde estão as pessoas?

Tive que concordar com ela, Manaus é uma cidade sem assunto, as pessoas não se entregam aos momentos de bolodório pelo simples prazer da conversa. Aqui jantamos, saímos para tomar café da manhã regional, dançar a noite, beber no Felicce, mas reunir os amigos para beber vinho (ou qualquer outra coisa da sua preferência) e ficar jogando “papo fora” pelo simples prazer de estar junto, conversar e dar risada, ah... isso meus amigos... é difícil acontecer.

Se num primeiro momento eu estranhei a afirmação dela, olhando esses quatro anos em que vivo aqui, vejo que realmente é assim. Os restaurantes têm hora para fechar a noite e se você não fizer menção de sair, eles vão até sua mesa avisar que está na hora, começam a varrer o chão, levantar as cadeiras, deixando claro que você, ali, não deve ficar se quiser continuar a conversa. Lembro que numa noite saí para jantar com um amigo, como eu dava aula a noite, saímos após as 22h30 e escolhemos um restaurante de hotel, pois pensamos que dali não seríamos expulsos, como em outras vezes ao nos entregarmos ao tal do bolodório com vinho. Ledo engano, perto da uma da madrugada, nossa conversa estava muito boa, chega o garçom com a carteira da conta e coloca na nossa frente. Nos olhamos. Em nossos olhares a interrogação, você pediu a conta? Não. Era mesmo o restaurante dizendo que devíamos ir embora.

Acho que ficou claro a falta de experiência dessa cidade em bolodórios.

Realmente, sinto muita falta dos bolodórios em minha vida. Casa de Cultura Mário Quintana em happy hour, Redenção na manhã de domingo, casa de amigas em noite de inverno, janta de sábado com amigos e almoço de domingo com família sem muito bolodório é como viver sem ter sido feliz, sem graça.

E para quem ainda não entendeu, bolodório, nada mais é que palavreado, conversa fiada, papo furado, conversa sem objetivo nenhum, a não ser o simples prazer de conversar, se divertir e passar o tempo perto de quem se gosta!